quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Feliz Natais de 2020

 por Eleonardo Rodrigues






Há cerca de 2.000 anos nascia Jesus,

Seu nascimento cumpria uma promessa.

Para celebrar e registrar três reis magos

Levaram incenso, ouro e mirra.

 

Esse evento marcou e marca profundamente várias gerações.

O propósito de sua vinda e vida

Restaurou a esperança em forma de fé em várias humanidades.

 

Hoje, o Natal se renova...

A atual humanidade de 2020 celebra seu Natal.

Seja cristão, muçulmano, budista ou ateísta.

 

Os olhos desses crentes brilham,

E, nesse reflexo, se ver o quarto rei magro em silhueta feminina,

Carregando em suas mãos uma linda vacina.

 

Que lindo presente Jesus nos dá,

Teus devotos se quedam humildemente.

E a ti, rendem honra e glória!

Pois, dessa vez, nos presentear-se em forma de milagre da ciência.

 


terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Inteligência Artificial: uma breve análise jurídica, sociológica e tecnológica na Sociedade da Informação

Por Mayara Carneiro*


 A análise dos sistemas de Inteligência Artificial deve seguir um ponto de vista jurídico, sociológico e tecnológico. Como afirma Lawrence Lessig em “The Law of the Horse: what cyberlaw might teach”, o debate completo entre direito e tecnologia não pode se restringir a essas duas vertentes, mas deve abranger outras forças regulatórias, em um cenário em que as leis, as normas sociais, os mercados e a arquitetura estariam presentes.

Questiona-se, a partir do ponto de vista jurídico, quem seria o responsável caso um sistema inteligente provoque um dano que não era previsível. Seria o programador que a criou? A empresa que lançou o software? O consumidor que comprou e interage com a máquina em uma relação de aprendizado? Será que o Direito está preparado para lidar com máquinas inteligentes, autônomas e imprevisíveis?

Outro ponto a ser levado em consideração é o tipo de Inteligência Artificial que se pretende tratar. Se Inteligência Artificial Forte, que tem consciência sobre si e sobre seus atos, que entende, é verdadeiramente inteligente e pode chegar à singularidade; ou se Inteligência Artificial Fraca, que age como se inteligente fosse, que não entende e não tem consciência sobre si e sobre seus atos – que é a Inteligência que se tem no estado da arte atual.

Créditos: Pixabay

De fato, a Inteligência Artificial está em todos os lugares (atuando, principalmente, junto ao processo de ressignificação do ser humano através da ciborguização que acontece na interação homem-máquina, como previsto por Donna Haraway em “A Cyborg Manifesto: Science, Technology, and Socialist Feminism in the Late 20th Century”, como em um celular, que atua como a extensão do ser humano, em que nele estão contidas todas as informações de seu dono. Ao mesmo tempo, tem-se Inteligências Artificiais capazes de ganhar cidadanias e direitos, como o exemplo clássico da Sophia da Hanson Robotics, que possui mais direitos do que as mulheres da Arábia Saudita, porque pode se locomover livremente sem a presença de alguém do sexo oposto, além de não precisar ter seu rosto e corpo cobertos.

Para entender a real importância e influência dos sistemas de Inteligência Artificial ao longo da Sociedade da Informação e sua capacidade de influência nas relações humanas, faz-se uso do que ensina o filósofo francês Bruno Latour, qual seja o surgimento de novos atuantes (actants) na esfera pública e a e a quebra da categorização binária humana e não humana. Consequentemente, passa-se a atribuir características humanas a seres não humanos.

Ao mesmo tempo, do ponto de vista sociológico, tem-se algoritmos que se utilizam de proxies (variáveis não relevantes) de raça e de classe que acabam maximizando a discriminação de minorias tradicionalmente discriminadas pela sociedade, como o algoritmo da Northpointe utilizado para prever a reincidência criminal e a periculosidade no estado da Flórida, Estados Unidos.

Esse algoritmo foi exposto pela ProPublica porque não fazia perguntas diretas de raça e classe, mas perguntas como “existe muito crime no seu bairro?”, o que representa um proxy de classe e de raça, e “já foi suspenso ou expulso da escola?”, que é um proxy de raça, considerando que em uma pesquisa rápida no Google confirma-se que a maioria das crianças que são suspensas ou expulsas nas escolas norte-americanas são pretas. Os resultados para essas perguntas são tão óbvios quanto se parecem: as pessoas pretas e pobres recebiam avaliações de riscos maiores, sendo consideradas mais propícias a reincidência criminal e consideradas com maior periculosidade, o que não se confirmou. Isso gerou um grave problema.

O processo algorítmico, reconhecido por sua “dureza”, não é influenciado por processos externos ao seu código. Mas o ser humano passa a estar presente em várias partes do processo ao fornecer os bancos de dados e as bases de treinamentos, que, por muitas vezes, são desequilibrados. Consequentemente, o algoritmo apresenta resultados desequilibrados. Ressalta-se: O algoritmo é (sempre) neutro, contudo, eventualmente pode apresentar um resultado enviesado por ser um reflexo dos seus bancos de dados e das bases de treinamento, fornecidos pelo ser humano.

Neste sentido, Cathy O’Neil caracteriza esses algoritmos como sendo generalizados (widespread) por serem capazes de atingir milhares de pessoas de forma generalizada, sendo capazes de decidir sobre critérios de reincidência, periculosidade, empregabilidade, empréstimo etc.; misteriosos (mysterious) por agirem secretamente, as pessoas que têm suas vidas decididas por algoritmos, dificilmente sabem que isso ocorre, não se sabe ao certo quais critérios são utilizados; e destrutivos (destructive) pela capacidade de destruir a vida das pessoas afetadas de forma injusta.

Por esse motivo, fala-se em ética de Inteligência Artificial (AI Ethics) aliada a princípios de governança algorítmica (como a explicabilidade), em uma tentativa de fazer com que o algoritmo traga resultados mais justos.

Outro ponto a ser discutido, no que tange a análise tecnológica, é a autonomia da Inteligência Artificial. Trata-se de uma autonomia meramente tecnológica, resultante de uma racionalidade previamente programada. Isso significa dizer que o sistema inteligente só tem autonomia porque o humano assim o quis. O que implica dizer que todas as ações da máquina sempre podem ser ligadas a um ser humano ou a um grupo econômico.

Quando o termo “Inteligência Artificial” foi cunhado, em 1956, Alan Turing já se questionava em 1950 sobre a possibilidade de as máquinas pensarem (can machine think?). Eventualmente deixou essa pergunta de lado para querer saber o quão bem poderia uma máquina imitar o cérebro humano. Por isso teceu o argumento de várias inaptidões (Arguments from Various Disabilities) em que afirmava que uma máquina seria capaz de fazer inúmeras coisas mencionadas, mas nunca poderá fazer X. Por X, determinou: ser amável, bonito, amigável, senso de humor etc., ou seja, características mais subjetivas, ligadas ao ser humano per se. Tal entendimento vai ao encontro ao que o jurista italiano Ugo Pagallo chamou de autonomia artificial, no qual as máquinas inteligentes apenas emulam sentimentos e emoções, como atores em uma peça de teatro, não sendo algo genuíno.

No mesmo sentido, John Searle mostra no Chinese Room Argument que do mesmo jeito que uma simulação de incêndio não ateia fogo na vizinhança, uma simulação de entendimento da máquina não faz com que ela entenda verdadeiramente. A máquina só ficou incrivelmente boa em manipular símbolos formais não interpretados.

A responsabilidade civil a ser empregada dependerá do tipo de Inteligência Artificial empregada, visto que o dano que um carro autônomo causa é físico, enquanto o dano causado por um algoritmo com resultado enviesado fere os direitos da personalidade do indivíduo. Mas acredita-se em uma Inteligência Artificial desenvolvida frente à ética deontológica, que, todavia, não vai focar na intenção do sistema (já que ele não possui intenção), mas no que se pretendia fazer. Todavia, mesmo com valores éticos, o sistema não tem raciocínio prático, julgamento, autorreflexão, deliberação, que são características privativas do ser humano. Por isso a necessidade do homem por trás do sistema autônomo e inteligente.

Assim, a Inteligência Artificial verdadeiramente ética e justa deve ser construída segundo princípios de segurança algorítmica, além de ser ética, segura e deve estar aliada a princípios de privacidade by design, isto é, desde sua concepção, como sugere Eduardo Magrani. Dessa forma, o sistema estará alinhado com um princípio de prevenção de riscos favorável à justiça e ao bem estar daqueles que vivem a Sociedade da Informação.

 

Sobre a autora:

* Mestre em Direito da Sociedade da Informação, membro do Grupo de Pesquisa “Família, Grupos Sociais e Informação”, ambos no Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – SP. Pós-graduada em Direito Civil e Processo Civil no Centro Universitário UniFacid Wyden (Teresina - PI). Advogada. Vice-presidente da Comissão de Direito Digital da OAB/PI. E-mail: mayaracarneir@gmail.com

CV: http://lattes.cnpq.br/3123942841476426. https://orcid.org/0000-0003-1139-4597. IG: @mayaracarneiroadv

 

 

REFERÊNCIAS

 

LATOUR, Bruno. A esperança de Pandora: ensaios sobre a realidade dos estudos científicos. Tradução: Gilson César Cardoso de Sousa. Bauru: EDUSC, 2001.

MAGRANI, Eduardo. Entre dados e robôs: ética e privacidade na era da hiperconectividade. 2. ed. Porto Alegre: Arquipélago Editorial, 2019.

O'NEIL, Cathy. Weapons of math destruction: how Big Data increases inequality and threatens democracy. New York: Crown, 2016.

PAGALLO, Ugo. The laws of robots: crimes, contracts, and torts. Dordrecht: Springer, 2013.

TURING, Alan. Computing Machinery and Intelligence. Oxford University Press, v. 59, n. 236, p. 433-460 out. 1950.


quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Mente, Cérebro e Ressonância Magnética

Por Eleonardo Rodrigues


            Hoje em dia, há um boom da imagem da neuroimagem, tanto na literatura técnica quanto na imprensa leiga, na qualidade de “fotografia da mente”. Face a este desenvolvimento emergente e vertiginoso, pesquisadores deste segmento devem se questionar sobre os usos e abusos dos recursos da neuroimagem. Destacam-se atualmente as seguintes tecnologias de imagem: TC (Tomografia Computadorizada), fMRI (Imagem de Ressonância Magnética Funcional), PETscan (Tomografia por Emissão de Pósitrons) e SPECT (Tomografia por Emissão de Fóton Único). Peres (2009) exemplifica que, até o ano de 2007, muitos estudos envolveram o método PET com uso em 48%, o SPECT com 33% e fMRI em 19%, que vem crescendo significativamente por se tratar de um método não invasivo e não usar radiação ionizante comum na energia nuclear. Por isto, não é correto usar o termo ressonância magnética nuclear, apesar de algumas pessoas ainda insistirem nessa nomenclatura.

    A Tomografia Computadorizada é uma técnica que se baseia em emissão de Raios-X. Esse aparelho consiste em uma fonte de raios-X que é acionada, ao mesmo tempo em que realiza um movimento circular ao redor da cabeça do paciente, emitindo um feixe de raios-X em forma de leque. Já as imagens de ressonância magnética têm maior capacidade de demonstrar diferentes estruturas no cérebro e facilita visualizações de mínimas alterações na maioria das doenças. Também possibilita avaliar estruturas como hipocampos, núcleos da base e cerebelo – que é de difícil avaliação por meio da TC (AMARO JÚNIOR E YAMASHITA, 2001).

            A técnica de fMRI é semelhante a um exame clínico com MRI, diferenciando a particularidade de se obter informações relativas à determinada função cerebral. Por exemplo, que partes do cérebro são mais ativas durante estimulação cognitiva do tipo escutar uma música, concentrar-se em uma imagem agradável ou não, relembrar memórias de longo prazo. Tem como vantagens alta resolução espacial e temporal; permite a correlação da atividade neural com a anatomia subjacente; diversos paradigmas podem ser utilizados com um simples exame e permite vários ensaios em um intervalo curto de tempo, favorecendo a avaliação estrutural de transtornos psiquiátricos. Essa técnica baseia-se no fato de que a atividade cerebral requer energia, e a glicose é a forma de energia processada pelo cérebro. Quando observamos qual área cerebral está consumindo maior quantidade de glicose, então, pode-se inferir onde o cérebro está funcionando mais energicamente.

            Como descrito por Costa, Oliveira e Bressan (2001), os métodos PETscan e SPECT, baseiam-se no princípio básico de que a instrumentação utilizada é apenas receptora de informação, ou seja, para se obter as imagens, é necessário administrar aos pacientes um radiofármaco marcado (um contraste, uma forma de glicose radioativa leve), seja um emissor de pósitron para PET, seja um emissor de fóton simples no caso do SPECT. Sabe-se que a eficácia de detecção do sinal radioativo é maior no PET do que no SPECT, mesmo assim seu uso é limitado, pois os radioisótopos de emissão de pósitrons têm vida radioativa curta de minutos, no máximo cerca de duas horas para o flumazenil, tornando um instrumento oneroso e restrito às grandes universidades públicas e clínicas privadas, favorecendo ao SPECT uma alternativa mais viável.

            No que pese a necessidade de ultrapassar problemas significativos com tais metodologias, ainda são bastante necessários nas seguintes situações clínicas: diagnóstico diferencial das demências, incluindo a depressão dos idosos; avaliação pré-cirúrgica de doentes com epilepsia focal; confirmação de morte cerebral; avaliação das sequelas neuropsiquiátricas após traumatismos encefálicos; diagnóstico diferencial entre doença de Parkinson e parkinsionismo induzido por fármacos. Além de estudar uma gama maior de funções cerebrais principalmente em relação à neurotransmissão e os neuroreceptores do que os exames de ressonância magnética funcional.

            As vantagens do PET e SPECT, respectivamente, são: exames com dinâmicas temporais, ou seja, mensura variações ao longo do procedimento; permite boa localização espacial em regiões ativas e uso de distintos marcadores para estudos metabólicos. Favorece a aquisição das imagens na tomografia posterior à tarefa em desenvolvimento, reduzindo artefatos de movimento; privacidade ao sujeito; usam-se marcadores da atividade neural mais estável, como meia-vida mais longa entre quatro e seis horas. Na mesma ordem, as desvantagens compreendem exame invasivo; em um curto período o experimento não pode ser repetido; restrição a estudos com tarefas sem variações; imobilidade dos sujeitos envolvidos. Baixa resolução não adquire anatomia; restrição ao estudo com tarefas sem variações e os demais quesitos do PET.

            Do ponto de vista da filosofia da mente, neurocientistas e médicos pesquisadores apoiam-se na neuroimagem como reforço do materialismo reducionista e ao materialismo eliminativo. Ao passo que a neuroimagem nos fornece apenas localização cerebral. Esta não deve ser confundida com localização anatômica, o que não nos permite inferir uma tese identitarista e reducionista para o problema mente-corpo. Observa-se, desde os primórdios dessa técnica, que a neuroimagem sugere um cérebro mais parecido com uma rede, em que uma função cognitiva tem vários locais dentro de uma concepção equipotencialista, conexionista ou holista. Pensemos, estudos feitos com linguagem e memória levam à conclusão de que são várias áreas cerebrais envolvidas no desenvolvimento do discurso e que muitos são os papéis assumidos pelo cérebro pré-frontal esquerdo nessa produção, o qual pode acessar significado, resgatar palavras da memória, gerar representações internas e acessar informação fonológica. Todavia, aquilo que é capturado pela neuroimagem – o brilho - refere-se em parte o que está ocorrendo no cérebro quando uma determinada função cognitiva é realizada. Portanto, uma função não se reduz a uma única região anatômica, mas sim multilocalizada. (TEIXEIRA, 2008; DAMÁSIO, 2000; LLOYD, 2000).

            Com base nesta linha de raciocínio, Teixeira (2008), sugere que a neuroimagem associada à ideia do mental como virtual, ao territorializar o lugar do psíquico e do anatômico, não caracteriza em si o reducionismo nem independência da relação mente-corpo, mas nos possibilita uma teoria do aspecto dual, sendo assim, o mental e físico são modos de descrição de uma única e mesma realidade. Dessa forma, no campo das psicoterapias os métodos da neuroimagem têm favorecido o estudo de sujeitos com transtornos de personalidade, transtornos de estresse pós-traumático, depressão maior, transtorno obsessivo-compulsivo, fobia social e específica.

 

Artigo original, fonte:

Rodrigues, E. P. Mente, Cérebro e Ressonância Magnética. Sapiêncianº 25, p. 30, Ano VI, setembro de 2010. ISSN - 1809-0915. 

Link da revista: 

https://www.sapiencia.fapepi.pi.gov.br/edicoes?pgid=k3hxufyv-e98d3726-2ac8-4479-bf66-ea22eab9b915


Referências:

PERES, J. Trauma e Superação. São Paulo: Roca, 2009.

AMARO JUNIOR, Edson; YAMASHITA, Helio. Aspectos básicos de tomografia computadorizada e ressonância magnética. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo, v. 23, supl. 1, p. 2-3, May 2001. 

COSTA, Durval C; OLIVEIRA, José Manuel AP; BRESSAN, Rodrigo A. PET e SPECT em neurologia e psiquiatria: do básico às aplicações clínicas. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo, v. 23, supl. 1, p. 4-5, May 2001.

DAMASIO, A. O mistério da consciência. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

TEIXEIRA, J. F. Como ler a filosofia da mente. São Paulo: Paulus, 2008.

LLOYD, Robert. Self-Organized Cognitive Maps, The Professional Geographer, 52:3, 517-531, 2000.

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Desenvolvimento Humano e Psicomotricidade

 *Joana Soromenho e **Antonio Cesar Soromenho


Imagem: Créditos Pixabay


Os estudos em Psicomotricidade surgiram no final do Século XVIII, quando Itard, médico francês, ficou famoso pelo trabalho que desenvolveu com a reeducação de uma criança selvagem encontrada na cidade de Aveyron, França. Esta criança chamada de Víktor, foi encontrada com dez anos, tendo sido criada por lobos durante todo o seu desenvolvimento até então. Itard acreditava que os problemas de desenvolvimento apresentados pela criança tinham origem, não em fatores de ordem biológica e genética, mas no fato de não ter estado integrada na sociedade humana (FONSECA, 2008).

            Víktor durante os seus quarenta anos de vida é diagnosticado com idiotismo. Mesmo após trinta anos a ser estudado por médicos, nunca conseguiu,  apesar do treino diário, apresentar uma postura bípede, plantar os pés no chão, desenvolver uma comunicação oral adequada, comer com talheres, para além de várias outras funções que eram “expectáveis”, na época, para um adequado convívio em sociedade. Em função de todos esses comprometimentos e das dificuldades na aprendizagem de novos comportamentos, Víktor desenvolveu, a nível fisiológico, algumas características bem marcantes e visíveis tais como dentição para arrancar e rasgar a pele (como os lobos). Os estudos sobre o menino de Aveyron foram revolucionários para a sociedade inatista da época pois a partir daí surgiram novos estudos e conceitos como psiquismo, motricidade, estudos sobre o desenvolvimento humano passando da ação curativa para a ação psicodinâmica, que quebraram o dualismo mente/corpo. Os progressos obtidos por Viktor no processo de reeducação constituem, ainda hoje, um testemunho precioso.

            A História do desenvolvimento humano abrange os quatro grandes pilares da Psicomotricidade: a macro, oro, micro e grafomotricidade. Durante muito tempo fomos coletores, esperávamos os animais de maior porte saciarem e coletávamos os seus restos para podermos nos alimentar. Éramos de maior porte do que somos hoje. A nossa história de desenvolvimento se inicia na macromotricidade e, com o passar do tempo, houve uma maturação e desenvolvimento neurofisiológico tendo havido uma redução na caixa craniana e no porte físico. Surgiram, então, os movimentos finos e começamos a desenvolver instrumentos, a criar novas estratégias de planejamento de caça, fazer casas nas árvores e, com o uso desses recursos, passamos a ser mais efetivos em assegurar a nossa sobrevivência, alimentação, procriação, dando início assim à construção de comunidades o que representou o ponto de partida para o desenvolvimento da nossa  oromotricidade. O nosso aparelho oromotor foi evoluindo enquanto as formas de comunicação e o repertório de palavras e símbolos era ampliado. Foi através dessa evolução que começamos a escrever a nossa história nas paredes através da maturação e desenvolvimento da função psicomotora mais complexa que nos diferencia de fato de todos os outros animais, a grafomotricidade. Tudo isso ocorreu em função da maturação do nosso lobo frontal, hipotálamo, lobo parietal, occipital, glândula pituitária e tronco encefálico bem como do desenvolvimento do nosso córtex motor que envia as informações para a ação motora. Deste modo, a Psicomotricidade como intervenção denota a necessidade de mobilizar e reorganizar as funções psíquicas, relacionais, emocionais do indivíduo, em todo a sua dimensão desde, bebê até a fase adulta, melhorando a conduta consciente e o ato mental, onde está inerente a elaboração e execução do ato motor (COSTA, 2009).

            A psicomotricidade tem por base um grupo de autores europeus, russos e norte-americanos.  Entre os europeus destacam-se: Wallon, que define os prelúdios psicomotores do pensamento. Piaget, com a embriologia mental e motora. Ajuriaguerra, com a concepção do corpo e a organização psicomotora de base. Havendo contribuições científicas recentes que continuam esclarecendo questões da nossa área, tais como os estudos do português António Damásio.

            Os principais autores russos são: Vygotsky, perspectiva sócio-histórica da psicomotricidade. Luria, com a organização neurofuncional da psicomotricidade.  Bernstein, com a ideias sobre coordenação e regulação cibernética da psicomotricidade e Zaporozhets e Elkonin que classificam a evolução dos hábitos motores.

            Dentre os autores norte-americanos, destacam-se: Kephart, sobre aquisição e generalização motora; Cratty e a pirâmide do comportamento perceptivo motor. Getman, sobre o complexo visuomotor. Frostig, com as habilidades visuoperceptivas; Barsch e a teoria movigenética. Cruickshank que esclarece sobre disfunções perceptivomotoras e disfunção cerebral e por fim Ayres, com a teoria da integração sensorial.

            Na Avaliação e intervenção Psicomotora, o psicomotricista se propõe a intervir nos fatores classificados por Luria. Segundo Luria, existem sete fatores que trabalham em conjunto, de forma integrada, e que contribuem para a organização psicomotora global. A organização destes sete fatores acontece através de uma hierarquia vertical (FONSECA, 1995).

            tonicidade ocorre através de aquisições neuromusculares, conforto tátil e integração de padrões motores antigravídicos (muito presente do nascimento aos 12 meses); a equilibração se manifesta na aquisição da postura bípede, segurança gravitacional, e desenvolvimento de padrões locomotores (dos 12 meses aos 2 anos); a lateralização se dá através da integração sensorial, investimento emocional, desenvolvimento das percepções difusas e dos sistemas aferentes e eferentes (dos 2 aos 3 anos); a noção do corpo ocorre através da noção do Eu, conscientização corporal, percepção corporal, condutas de imitação (dos 3 aos 4 anos); a estruturação espaço temporal se manifesta por meio do desenvolvimento da atenção seletiva, do processamento de informações, coordenação espaço-corpo, proficiência da linguagem (dos 4 aos 5 anos); a praxia global ocorre através da coordenação oculomanual e oculopedal, planificação motora, integração rítmica (dos 5 aos 6 anos); a praxia fina através da concentração, organização, especialização hemisférica (dos 6 aos 7 anos).

            A intervenção Psicomotora pode ser aplicada em três modelos e contextos: o educativo que promove o desenvolvimento psicomotor e o potencial de aprendizagem; o reeducativo ou terapêutico que ultrapassa problemas que comprometam a adaptabilidade, o desenvolvimento, a aprendizagem e o preventivo que visa a estimulação do desenvolvimento, melhorias e manutenção das competências de autonomia.

            Quando falamos em intervenção, partimos do pressuposto que foi feita uma avaliação rigorosa das funções daquele indivíduo, um planejamento adequado para maximizar habilidades e potencialidades e minimizar dificuldades com objetivos bem específicos para cada caso. No entanto, como objetivos gerais, podemos classificar a intervenção psicomotora com os objetivos de mobilizar e reorganizar as funções psíquicas, relacionais, emocionais do indivíduo, em toda a sua dimensão durante toda a vida; melhorar a conduta consciente e o ato mental, onde está inerente a elaboração e execução do ato motor; fazer com que as sensações e as percepções passem a níveis de consciencialização, simbolização e conceptualização; harmonizar e aumentar o desenvolvimento global da personalidade e de adaptabilidade social, ou seja, o potencial motor, afetivo-relacional e cognitivo e fazer do corpo uma síntese integradora da personalidade onde ocorre harmonia entre as relações do psíquico e da globalidade motora.

            Concluindo, “A aprendizagem humana começa por ser motora: macro, micro, oro, grafo e sociomotora. Antes de aprender a ler, escrever e calcular, todo o ser humano precisa integrar psiquicamente ou superiormente as experiências motoras e espaciais. Sem tal organização e orientação, as dificuldades de aprendizagem tem mais probabilidade de ocorrer, o que é confirmado pelos diversos autores que citamos.” (FONSECA; OLIVEIRA, 2009).

  

Referências:

FONSECA, V. Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2008.

COSTA, D. F. Psicomotricidade na educação infantil. 2009. Disponível em: https://semanaacademica.org.br/system/files/artigos/psicomotricidade_na_educacao_infantil_0.pdf. Acesso em: 27 abr. 2019.

FONSECA, Vitor; OLIVEIRA, Joana. ”Aptidões Psicomotoras e de Aprendizagem”. Ed. Âncora, 2009, p.24.

 

Autores:

*Joana Soromenho de Oliveira (Pedagoga, Psicomotricista, Psicopedagoga). Licenciatura em Pedagogia – Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Brasil. Pós-gradução em Psicopedagogia EPCE- Teresina, PI, Brasil. Certificado Internacional de Psicomotricidade – CISTC no Institut Supérieur de Rééducation Psychomotrice ISRP, Organisation Internationale de Psychomotricité et de Relaxation, OIPR, Paris, França.Especialista em Educação Especial pela FMH-Universidade Técnica de Lisboa, Portugal.

 **Antonio Cesar Soromenho Santos de Oliveira (Psicólogo CRP 21/04062. Especialista em Psicomotricidade com Ênfase em Educação Especial – IMPAR. Especializando em Neuropsicologia – IPOG. Professor de Orientação Profissional. Sócio da Clínica Soromenho. Membro da comissão de Psicologia do Esporte CRP-21. Idealizador do Modelo TEA Jutsu.

 

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Traumas e suas repercussões na personalidade

*Por Eleonardo Rodrigues

 

O estudo da personalidade motiva a atenção tanto da população em geral quanto do mundo acadêmico. No campo das psicoterapias e recente surgimento das neurociências há um esforço de melhor compreensão terapêutica da fenomenologia da personalidade circundando o entendimento harmonioso dos conceitos de traços, temperamento e caráter quando desadaptados do limite do sujeito, favorecem os respectivos transtornos de personalidade.

A Personalidade é construída dinamicamente com os construtos do temperamento e caráter. O temperamento refere-se à parte mais inata e instintiva, com raízes no comportamento biológico. Existem evidências de que certos tipos de temperamento e padrões comportamentais estão presentes desde o nascimento. Tais características favorecem tendências que podem ser ampliadas ou diminuídas de acordo com a experiência do indivíduo.

O caráter constitui o conjunto das disposições individuais considerado em seu possível desenvolvimento psicossocial, aprendido no meio ambiente que influem na personalidade, ou seja, ele representa uma maneira de ser potencial, dinâmica, voltada para o futuro (Rodrigues, 2010).

O conceito de personalidade, por outro lado, envolve um estilo de vida multidimensional no qual as tendências inatas do indivíduo interagem com o meio ambiente para produzir sentimentos, pensamentos e comportamentos de uma perspectiva subjetiva.

De acordo com Beck (2005), os padrões estáveis que constituem a personalidade refletem estratégias que foram construídas na adaptação do sujeito ao mundo. Na interação com o contexto e figuras de referência, o indivíduo desenvolve maneiras de se adaptar, em um processo contínuo de aprendizagem.

Concepções primitivas e primárias são formadas. Fatores genéticos também atuam, mas podem ser exacerbados ou minimizados dependendo das interações com o ambiente. As experiências de tenra infância são importantíssimas, pois são as fontes dos primeiros esquemas mentais. Essa aprendizagem terá forte influência determinante sobre o modus operandi do sujeito. Ao longo da vida, novos esquemas podem ser formados e antigos podem ser reformulados.

Créditos: Pixaby

O que é trauma?

Trauma constitui prejuízo e estado mental ou comportamental desorganizados, causados por estresse psicológico ou físico, relacionados a eventos que provoquem medo agudo ou crônico. Corroboram com essa ideia difundida de forma incipiente sobre trauma e memória na etiologia da histeria, Martin Charcot, Pierre Janet e Sigmund Freud, no final do século XIX, os mesmo argumentam que o trauma psicológico é resultante de uma situação vivenciada, testemunhada ou confrontada pelo indivíduo, na qual houve ameaça à vida ou à integridade física e/ou psicológica de si próprio ou de pessoas a ele ligadas (Rodrigues, 2010).

Abuso ou maus-tratos em crianças estão associados a um risco substancialmente aumentado de psicopatologia na adolescência e vida adulta. Assim, diferentes aspectos estão envolvidos na sintomatologia do Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), tal como: a natureza do evento traumático, o número de exposições, a vulnerabilidade do indivíduo e a reação desse frente ao estressor, a rede de proteção após o evento.

Maus-tratos são um fenômeno complexo, que se manifesta em contextos de pobreza familiar, conhecimento e habilidade inadequada dos pais em relação ao desenvolvimento e cuidado infantil, interrupções nas relações pais-filhos, funcionamento psicológico parental comprometido.

Efeito do trauma no cérebro

Andreasen (2005) e Rodrigues et al. (2011), sugerem que o TEPT é um exemplo claro da influência das experiências psicológicas sobre as reações neurobiológicas.

A exposição a traumas desencadeia uma série de eventos que influenciam as vias cerebrais de alerta por meio da amígdala; a liberação de adrenalina e cortisol pode produzir lesões no hipocampo. De acordo com Rodrigues (2010), estudos confirmam que indivíduos maltratados tem maior prevalência em transtornos depressivos, ansiosos e por uso de substâncias, maior risco de suicídio e pior resposta ao tratamento do que indivíduos não maltratados com os mesmos diagnósticos.

Tratamento

            Do ponto de vista terapêutico, diante de um paciente que vivenciou trauma significativo, é preciso focar o tratamento no apoio e encorajamento para a discussão do evento traumático. É útil educá-lo com relação aos mecanismos de manejo de afetos, cognições e comportamentos. As psicoterapias são uma alternativa viável para esses fins. Além de suas fundamentações filosóficas, podem ser utilizadas técnicas como a exposição ao evento estressor e relaxamento.  

            Em relação as intervenções preventivas, sugerem-se intervenções de curto prazo logo em seguida ao nascimento, focada no aumento da autoconfiança dos pais e intervenções realizadas por profissionais especializados.  Para intervenções de modificação do trauma, focar na melhoria das habilidades parentais e intervenções que fornecem suporte social e emocional.  

            Contudo, todos nós estamos sujeitos ou fomos sujeitos a situações traumáticas. Negar esse evento para os outros não esconderá de você. Você não é culpado pelo ocorrido. Há uma tendência de as pessoas mais velhas reassegurarem que passaram por situações difíceis e não se traumatizaram, mas não percebem e nem aceitam que alguns de seus comportamentos atuais são reações frente aos traumas. O perdão é uma atitude nobre que pode nos libertar. A terapia é um lugar seguro que possibilitará uma mudança na forma de você sentir e pensar sobre o trauma e utilizar recursos mais significativos para a mudança necessária.

 

 

Para aprofundamento veja as referências e assista ao bate-papo em forma de live em meu canal no Instagram: @eleonardorodrigues.

 

Referências:

 

Andreasen, N. C. (2005). Admirável cérebro novo: vencendo a doença mental na era do genoma. Trad. Ronaldo Cataldo Costa. Artmed.

Beck, A. T. Teoria dos transtornos da personalidade. In: Beck, A. T.; Freeman, A.; Davis, D. D. (2005). Terapia Cognitiva dos Transtornos da Personalidade; trad. Maria Adriana Veríssimo Veronese. 2.ed. Artmed.

Rodrigues, Eleonardo Pereira. Volume do hipocampo no transtorno de personalidade Bordeline com e sem transtorno de estresse pós-traumático: revisão sistematica e metanálise. (2010). 77f. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Medicina. Curso de Pós-Graduação em Medicina e Saúde. Salvador – BA.    

Rodrigues, E., Wenzel, A., Ribeiro, M. P., Quarantini, L. C., Miranda-Scippa, A., de Sena, E. P., & de Oliveira, I. R. (2011). Hippocampal volume in borderline personality disorder with and without comorbid posttraumatic stress disorder: a meta-analysis. European psychiatry: the journal of the Association of European Psychiatrists26(7), 452–456. https://doi.org/10.1016/j.eurpsy.2010.07.005.


sábado, 31 de outubro de 2020

Luto e Pandemia

Por Eleonardo Rodrigues


A pandemia veio como um oponente forte e nos nocauteou em nosso ego, antecipando de forma drástica nossa forma de conviver, viver e morrer. O ditado popular: “A única certeza que temos da vida é a morte” tornou-se um imperativo de alta probabilidade para negacionistas e uma atitude de resiliência para os esperançosos e amantes da vida.

Imagem: Pixabay.com

Esses oito meses de isolamento e/ou distanciamento social nos convidou a nos reinventarmos dentro de um processo histórico em andamento...onde crenças foram ressignificadas pela quase morte e morte de entes queridos. Há quem mudou suas crenças nucleares empaticamente pelo sofrimento do outro mundialmente, há quem quase morreu e não aprendeu a lição e segue na sua idiossincrasia. Portanto, não devemos esquecer que coisas ruins acontecem com boas pessoas e que a natureza segue seu compasso suave e bela quando respeitada e, avassaladora e trágica quando desrespeitada.  


Contudo, o amor, o perdão, o bom senso, a fé, constituem alimentos afetivos fundamentais para os que ficam e reaprendem com humildade e serenidade a aventura e a graça que é o viver. Mas, quando e apesar do suporte dessa rede afetiva você ainda sofre muito adoecendo física e emocionalmente, a sugestão é buscar ajuda profissional.


quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Colocaram um feitiço em você?!

 I Put a Spell on you/Eu Coloquei Um Feitiço Em Você (Nina Simone)

Fonte: https://www.vagalume.com.br/nina-simone/i-put-a-spell-on-you-traducao.html

 

Eu coloquei um feitiço em você

Por que você é meu

 

É melhor você parar de fazer o que faz

Eu não minto

Não, eu não minto

 

Você sabe que eu não suporto mais

Você está dando desculpas

Você bem sabe

Que eu não posso suportar

porque você me derruba

 

Eu coloquei um feitiço em você

Por que você é meu

Você é meu

 

Eu amo você

Eu amo você

Eu amo você

Eu amo você de qualquer jeito

E eu não ligo

Se você não me quer

Porque eu sou sua agora

 

Você me ouviu

Eu coloquei um feitiço em você

Por que você é meu

 


     Que linda canção composta por Jalacy Hawkins, lançada em junho de 1965,  na voz estrondosa da magnifica Nina Simone. E você está enfeitiçado(a) pelas redes sociais? Será que o que você pensa é mesmo tudo de sua autoria com influências saudáveis, mas subliminarmente misturadas com ideologias manipulativas? Às vezes nossas crenças podem ser irracionais! Vejamos: Tudo se trata hoje com um passo de mágica virtual, tudo se resolve, basta seguir tal tutorial, será? Há problemas que resolvemos em curto prazo, outros em médio, alguns ao longo e outros talvez não se resolvam, pois muitos fazem parte de nossa biografia biopsicossocial da inalienável aceitação de si. 

     A sociedade do espetáculo nos seduz com a embriaguez do excesso de exposição. Ah, como é bom ser curtido, ter milhares de seguidores, meu sistema de recompensa cerebral vibra e fica super excitado: quero mais, quero mais, quero mais...não consigo parar...Então, aonde você se perdeu no meu do caminho? Será que fui enfeitiçado por um lobo na pele de cordeiro? Estou conseguindo ver mais claramente que toda essa exposição é boa, mas devo ter senso crítico? Devo filtrar e não reforçar likes e curtidas manipulativas por mais sedutoras e legais que se apresentem? Pensar sobre nosso próprio pensamento de forma crítica é partimos de uma tese, saber qual sua antítese e chegamos a uma síntese com bom senso. Tais inquietações desse feitiço foram feitas semelhantemente na idade média, revolução industrial, pós-modernidade e agora na pós-verdade. De que lado você quer estar? Do lado da alienação de massa com direito ao meu deleite histriônico ou do lado de que ninguém ou nada sozinho é uma panaceia?

     Espero ter começado a despertar você do transe desse feitiço dos algoritmos das redes sociais que tem a pretensão de vender tudo por um preço de custo barato mexendo com nossas emoções que na grande maioria das vezes não sabemos a qualidade de seu conteúdo mental privado que o antecede e o determina, mas é bem estudado pelos manipuladores das vendas e do mercado que acreditam e provam que temos um preço e somos presas fáceis quando não pensamos em coletivo de forma responsável e com autocrítica. 

     Queres continuar enfeitiçado? Não? Então sugiro assistir ao documentário “O dilema das redes”.



Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=ua2k52n_Bvw

Gravadora Philips Records em 1964-1965.