Hoje em dia, há um boom da imagem da neuroimagem, tanto na literatura técnica quanto na imprensa leiga, na qualidade de “fotografia da mente”. Face a este desenvolvimento emergente e vertiginoso, pesquisadores deste segmento devem se questionar sobre os usos e abusos dos recursos da neuroimagem. Destacam-se atualmente as seguintes tecnologias de imagem: TC (Tomografia Computadorizada), fMRI (Imagem de Ressonância Magnética Funcional), PETscan (Tomografia por Emissão de Pósitrons) e SPECT (Tomografia por Emissão de Fóton Único). Peres (2009) exemplifica que, até o ano de 2007, muitos estudos envolveram o método PET com uso em 48%, o SPECT com 33% e fMRI em 19%, que vem crescendo significativamente por se tratar de um método não invasivo e não usar radiação ionizante comum na energia nuclear. Por isto, não é correto usar o termo ressonância magnética nuclear, apesar de algumas pessoas ainda insistirem nessa nomenclatura.
A Tomografia
Computadorizada é uma técnica que se baseia em emissão de Raios-X. Esse aparelho
consiste em uma fonte de raios-X que é acionada, ao mesmo tempo em que realiza
um movimento circular ao redor da cabeça do paciente, emitindo um feixe de
raios-X em forma de leque. Já as imagens de ressonância magnética têm maior
capacidade de demonstrar diferentes estruturas no cérebro e facilita
visualizações de mínimas alterações na maioria das doenças. Também possibilita
avaliar estruturas como hipocampos, núcleos da base e cerebelo – que é de
difícil avaliação por meio da TC (AMARO
JÚNIOR E YAMASHITA, 2001).
A técnica de fMRI é
semelhante a um exame clínico com MRI, diferenciando a particularidade de se
obter informações relativas à determinada função cerebral. Por exemplo, que
partes do cérebro são mais ativas durante estimulação cognitiva do tipo escutar
uma música, concentrar-se em uma imagem agradável ou não, relembrar memórias de
longo prazo. Tem como vantagens alta resolução espacial e temporal; permite a
correlação da atividade neural com a anatomia subjacente; diversos paradigmas
podem ser utilizados com um simples exame e permite vários ensaios em um
intervalo curto de tempo, favorecendo a avaliação estrutural de transtornos
psiquiátricos. Essa técnica baseia-se no fato de que a atividade cerebral
requer energia, e a glicose é a forma de energia processada pelo cérebro.
Quando observamos qual área cerebral está consumindo maior quantidade de
glicose, então, pode-se inferir
onde o cérebro está funcionando mais energicamente.
Como descrito por Costa, Oliveira e Bressan (2001), os
métodos PETscan e SPECT, baseiam-se no princípio básico de que a instrumentação
utilizada é apenas receptora de informação, ou seja, para se obter as imagens,
é necessário administrar aos pacientes um radiofármaco marcado (um contraste,
uma forma de glicose radioativa leve), seja um emissor de pósitron para PET,
seja um emissor de fóton simples no caso do SPECT. Sabe-se que a eficácia de
detecção do sinal radioativo é maior no PET do que no SPECT, mesmo assim seu
uso é limitado, pois os radioisótopos de emissão de pósitrons têm vida
radioativa curta de minutos, no máximo cerca de duas horas para o flumazenil,
tornando um instrumento oneroso e restrito às grandes universidades públicas e
clínicas privadas, favorecendo ao SPECT uma alternativa mais viável.
No que pese a necessidade de ultrapassar problemas
significativos com tais metodologias, ainda são bastante necessários nas
seguintes situações clínicas: diagnóstico diferencial das demências, incluindo
a depressão dos idosos; avaliação pré-cirúrgica de doentes com epilepsia focal;
confirmação de morte cerebral; avaliação das sequelas neuropsiquiátricas após
traumatismos encefálicos; diagnóstico diferencial entre doença de Parkinson e
parkinsionismo induzido por fármacos. Além de estudar uma gama maior de funções
cerebrais principalmente em relação à neurotransmissão e os neuroreceptores do
que os exames de ressonância magnética funcional.
As vantagens do PET e SPECT, respectivamente, são: exames
com dinâmicas temporais, ou seja, mensura variações ao longo do procedimento;
permite boa localização espacial em regiões ativas e uso de distintos
marcadores para estudos metabólicos. Favorece a aquisição das imagens na
tomografia posterior à tarefa em desenvolvimento, reduzindo artefatos de
movimento; privacidade ao sujeito; usam-se marcadores da atividade neural mais
estável, como meia-vida mais longa entre quatro e seis horas. Na mesma ordem,
as desvantagens compreendem exame invasivo; em um curto período o experimento
não pode ser repetido; restrição a estudos com tarefas sem variações;
imobilidade dos sujeitos envolvidos. Baixa resolução não adquire anatomia;
restrição ao estudo com tarefas sem variações e os demais quesitos do PET.
Do ponto de vista da filosofia da mente, neurocientistas e
médicos pesquisadores apoiam-se na neuroimagem como reforço do materialismo
reducionista e ao materialismo eliminativo. Ao passo que a neuroimagem nos
fornece apenas localização cerebral. Esta não deve ser confundida com
localização anatômica, o que não nos permite inferir uma tese identitarista e
reducionista para o problema mente-corpo. Observa-se, desde os primórdios dessa
técnica, que a neuroimagem sugere um cérebro mais parecido com uma rede, em que
uma função cognitiva tem vários locais dentro de uma concepção
equipotencialista, conexionista ou holista. Pensemos, estudos feitos com
linguagem e memória levam à conclusão de que são várias áreas cerebrais
envolvidas no desenvolvimento do discurso e que muitos são os papéis assumidos
pelo cérebro pré-frontal esquerdo nessa produção, o qual pode acessar
significado, resgatar palavras da memória, gerar representações internas e
acessar informação fonológica. Todavia, aquilo que é capturado pela neuroimagem
– o brilho - refere-se em parte o que está ocorrendo no cérebro quando uma
determinada função cognitiva é realizada. Portanto, uma função não se reduz a
uma única região anatômica, mas sim multilocalizada. (TEIXEIRA, 2008; DAMÁSIO,
2000; LLOYD, 2000).
Com base nesta linha de raciocínio, Teixeira (2008),
sugere que a neuroimagem associada à ideia do mental como virtual, ao
territorializar o lugar do psíquico e do anatômico, não caracteriza em si o
reducionismo nem independência da relação mente-corpo, mas nos possibilita uma
teoria do aspecto dual, sendo assim, o mental e físico são modos de descrição
de uma única e mesma realidade. Dessa forma, no campo das psicoterapias os
métodos da neuroimagem têm favorecido o estudo de sujeitos com transtornos de
personalidade, transtornos de estresse pós-traumático, depressão maior, transtorno
obsessivo-compulsivo, fobia social e específica.
Artigo
original, fonte:
Rodrigues, E. P. Mente, Cérebro e Ressonância
Magnética. Sapiência, nº 25, p. 30, Ano VI,
setembro de 2010. ISSN - 1809-0915.
Link da
revista:
https://www.sapiencia.fapepi.pi.gov.br/edicoes?pgid=k3hxufyv-e98d3726-2ac8-4479-bf66-ea22eab9b915
Referências:
PERES, J.
Trauma e Superação. São Paulo: Roca, 2009.
AMARO JUNIOR, Edson; YAMASHITA, Helio. Aspectos básicos de tomografia computadorizada e ressonância magnética. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo, v. 23, supl. 1, p. 2-3, May 2001.
COSTA, Durval C; OLIVEIRA, José Manuel AP; BRESSAN, Rodrigo A. PET e SPECT em neurologia e psiquiatria: do básico às aplicações clínicas. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo, v. 23, supl. 1, p. 4-5, May 2001.
DAMASIO, A. O
mistério da consciência. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
TEIXEIRA,
J. F. Como ler a filosofia da mente. São Paulo: Paulus, 2008.
. Self-Organized Cognitive Maps, The Professional Geographer, 52:3, 517-531, 2000.
Nenhum comentário:
Postar um comentário