domingo, 31 de maio de 2020

Psicologia Familiar

*por Myrla Sirqueira Soares



A terapia de família surgiu após a Segunda Guerra Mundial, em um contexto de crise, com as pessoas ainda chocadas com a destruição recente. Estavam também mais conscientes das contradições sociais e da interdependência econômica e ecológica mundial (CORDIOLI, 2008).


Pois bem, vamos analisar! Como você avalia as condições familiares após essa guerra atual? Quais as mudanças na convivência devido a situação mundial? Esse contexto está afetando a forma de relacionar-se individualmente, com os outros, o núcleo familiar e/ou o mundo? Como sua família foi atingida? Você acredita que a sua família envolve apenas as pessoas com quem divide um espaço físico comum? 


Diante dos questionamentos acima, pode-se perceber que o mundo mudou, se transformou, houve perdas, dores, superações, alegrias; e como diz a canção “nada será como antes”; e isso envolve a sociedade, as relações, as visões e, consequentemente, as famílias. E pode até desenvolver novos arranjos, com as questões sociais que estão inseridas.


A história de cada sociedade permite o desenvolvimento do sistema genealógico, mas também tem intercessões, e são elas que auxiliaram na construção da psicologia que é trabalhada até hoje. 


A terapia de família se desenvolveu nos Estados Unidos, na década de 1950, de duas vertentes principais: o trabalho com esquizofrênicos e com crianças, ambos dependentes de suas famílias. Em 1960, Minuchin e colaboradores trabalharam em Nova Iorque com famílias de adolescentes delinquentes; na Europa, foram expoentes inicias Selvini-Palazzori e seu grupo de Milão e Stierlin, na Alemanha. A partir de 60 e 70, várias escolas se diferenciaram dentro das terapias sistêmicas (CORDIOLI, 2008). 


Já em 1980, tornou-se mais nítida a tentativa de síntese e integração de teorias e técnicas, coincidindo com a introdução da terapia familiar no Brasil, por brasileiros que haviam estudado nos Estados Unidos e na Europa e que começaram a elaborar integrações adaptadas à realidade brasileira (CORDIOLI, 2008).


Grande parte da experiência profissional, clínica e de pesquisa tem levado a investir esforços e dedicação para uma melhor compreensão das dificuldades envolvidas nas interações humanas, mais especificamente no que diz respeito ao relacionamento familiar e conjugal (RANGÉ, 2011).


A família pode ser considerada um sistema vivo, semiaberto, que se desenvolve e se transforma com o tempo – não nasce e não morre, surge de famílias às quais dá continuidade e se transforma em novas famílias (RANGÉ, 2011). Corroborando com o excerto acima, vemos que ela é um microssistema que tem relação com vários outros; porém é preciso estabelecer novas formas de manejo, de comunicação, de regras, fronteiras, de comportamentos, afetos, papéis, entre outros.



Para Minuchin, o que acontece com um membro da família afeta todos os demais. Reciprocamente, o que ocorre com a família influencia necessariamente todos os membros, sendo preciso pensar na família como uma unidade. 


Para Bateson, Ferreira e Jackson (1971), a família é mais do que a soma de seus membros. É um sistema vivo com leis próprias de funcionamento. Estas leis configuram uma estrutura com a dupla capacidade de morfogênese, ou seja, flexibilidade para mudar com o passar do tempo e de homeostase, que garante a estabilidade do seu funcionamento ao longo do ciclo da vida (apud RANGÉ, 2001).


No sistema familiar, assim como no desenvolvimento humano, existem categorias que classificam cada fase. Entende-se, que há necessidades que precisam ser saciadas para que haja um funcionamento saudável, tanto dos membros que a compõe, como do conjunto que a forma. E toda fase tem suas crises, mudanças, adaptações e funções; é preciso ressaltar que nem todas passam por cada uma delas, algumas são suprimidas, outras se extinguem, ou as vivenciam, e muitas são experimentadas de forma disfuncionais.


As fases do ciclo vital da família dividem-se em: individuação do adulto, casamento, nascimento do primeiro filho, família com filhos pequenos, família com filhos adolescentes e o chamado “ninho vazio” ou família de maturidade (CORDIOLI, 2008) Alguns autores ainda discorrem sobre a fase da morte da família, e como um ciclo, consequentemente, repetem os itens. 


As necessidades mudam e alguns sistemas precisam de reformas, reedições e transformações, para permitir maximizar relações de maneira saudável. E assim, podemos concluir que cada sistema familiar tem suas subjetividades, onde o contexto social é capaz de produzir um conjunto de comportamentos, hábitos e relações. A individualidade não se integra a um sistema, porém se inter-relacionam, promovendo novas vivências, a qual chamamos de família. 



Referências 
CORDIOLI, A.V. Psicoterapias – Abordagens atuais. 3.ed. Porto Alegre: Ed. Artmed, 2008.
RANGÉ, B. Psicoterapias cognitivos-comportamentais: um diálogo com a psiquiatria. Porto Alegre: Artmed, 2001.
RANGÉ, B. Psicoterapias cognitivos-comportamentais: um diálogo com a psiquiatria. 2.e.d. Porto Alegre: Artmed, 2011.



*Psicóloga Graduada pela UESPI.  Pedagoga Graduada pela FAEPI.  Especialista em Terapia Familiar e de Casal pelo ICF. Docente nas faculdades FATEPI\FAESPI. Currículo completo disponível em:  http://lattes.cnpq.br/3522198412893629.

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