*por Myrla
Sirqueira Soares
A
terapia de família surgiu após a Segunda Guerra Mundial, em um contexto de
crise, com as pessoas ainda chocadas com a destruição recente. Estavam também
mais conscientes das contradições sociais e da interdependência econômica e
ecológica mundial (CORDIOLI, 2008).
Pois
bem, vamos analisar! Como você avalia as condições familiares após essa guerra
atual? Quais as mudanças na convivência devido a situação mundial? Esse
contexto está afetando a forma de relacionar-se individualmente, com os outros,
o núcleo familiar e/ou o mundo? Como sua família foi atingida? Você acredita
que a sua família envolve apenas as pessoas com quem divide um espaço físico
comum?
Diante
dos questionamentos acima, pode-se perceber que o mundo mudou, se transformou, houve
perdas, dores, superações, alegrias; e como diz a canção “nada será como
antes”; e isso envolve a sociedade, as relações, as visões e, consequentemente,
as famílias. E pode até desenvolver novos arranjos, com as questões sociais que
estão inseridas.
A
história de cada sociedade permite o desenvolvimento do sistema genealógico,
mas também tem intercessões, e são elas que auxiliaram na construção da
psicologia que é trabalhada até hoje.
A
terapia de família se desenvolveu nos Estados Unidos, na década de 1950, de
duas vertentes principais: o trabalho com esquizofrênicos e com crianças, ambos
dependentes de suas famílias. Em 1960, Minuchin e colaboradores trabalharam em
Nova Iorque com famílias de adolescentes delinquentes; na Europa, foram
expoentes inicias Selvini-Palazzori e seu grupo de Milão e Stierlin, na
Alemanha. A partir de 60 e 70, várias escolas se diferenciaram dentro das
terapias sistêmicas (CORDIOLI, 2008).
Já em
1980, tornou-se mais nítida a tentativa de síntese e integração de teorias e
técnicas, coincidindo com a introdução da terapia familiar no Brasil, por
brasileiros que haviam estudado nos Estados Unidos e na Europa e que começaram
a elaborar integrações adaptadas à realidade brasileira (CORDIOLI, 2008).
Grande
parte da experiência profissional, clínica e de pesquisa tem levado a investir
esforços e dedicação para uma melhor compreensão das dificuldades envolvidas
nas interações humanas, mais especificamente no que diz respeito ao
relacionamento familiar e conjugal (RANGÉ, 2011).
A
família pode ser considerada um sistema vivo, semiaberto, que se desenvolve e
se transforma com o tempo – não nasce e não morre, surge de famílias às quais
dá continuidade e se transforma em novas famílias (RANGÉ, 2011). Corroborando
com o excerto acima, vemos que ela é um microssistema que tem relação com
vários outros; porém é preciso estabelecer novas formas de manejo, de
comunicação, de regras, fronteiras, de comportamentos, afetos, papéis, entre
outros.
Para
Minuchin, o que acontece com um membro da família afeta todos os demais.
Reciprocamente, o que ocorre com a família influencia necessariamente todos os
membros, sendo preciso pensar na família como uma unidade.
Para
Bateson, Ferreira e Jackson (1971), a família é mais do que a soma de seus
membros. É um sistema vivo com leis próprias de funcionamento. Estas leis
configuram uma estrutura com a dupla capacidade de morfogênese, ou seja,
flexibilidade para mudar com o passar do tempo e de homeostase, que garante a
estabilidade do seu funcionamento ao longo do ciclo da vida (apud RANGÉ,
2001).
No
sistema familiar, assim como no desenvolvimento humano, existem categorias que
classificam cada fase. Entende-se, que há necessidades que precisam ser
saciadas para que haja um funcionamento saudável, tanto dos membros que a
compõe, como do conjunto que a forma. E toda fase tem suas crises, mudanças,
adaptações e funções; é preciso ressaltar que nem todas passam por cada uma
delas, algumas são suprimidas, outras se extinguem, ou as vivenciam, e muitas
são experimentadas de forma disfuncionais.
As
fases do ciclo vital da família dividem-se em: individuação do adulto,
casamento, nascimento do primeiro filho, família com filhos pequenos, família
com filhos adolescentes e o chamado “ninho vazio” ou família de maturidade
(CORDIOLI, 2008) Alguns autores ainda discorrem sobre a fase da morte da
família, e como um ciclo, consequentemente, repetem os itens.
As
necessidades mudam e alguns sistemas precisam de reformas, reedições e
transformações, para permitir maximizar relações de maneira saudável. E assim,
podemos concluir que cada sistema familiar tem suas subjetividades, onde o
contexto social é capaz de produzir um conjunto de comportamentos, hábitos e
relações. A individualidade não se integra a um sistema, porém se
inter-relacionam, promovendo novas vivências, a qual chamamos de família.
CORDIOLI, A.V. Psicoterapias – Abordagens atuais. 3.ed. Porto Alegre: Ed. Artmed, 2008.
RANGÉ, B. Psicoterapias cognitivos-comportamentais: um diálogo com a psiquiatria. Porto Alegre: Artmed, 2001.
RANGÉ, B. Psicoterapias cognitivos-comportamentais: um diálogo com a psiquiatria. 2.e.d. Porto Alegre: Artmed, 2011.
*Psicóloga Graduada pela
UESPI. Pedagoga Graduada pela FAEPI. Especialista em Terapia Familiar e de Casal pelo ICF. Docente
nas faculdades FATEPI\FAESPI. Currículo completo disponível em: http://lattes.cnpq.br/3522198412893629.