terça-feira, 23 de janeiro de 2024

A Técnica da Cadeira Vazia

A técnica da cadeira vazia é uma técnica interativa, usada para ajudar o cliente a manter contato de forma profunda possibilitando a conexão entre pensamentos, emoções e comportamentos do cliente durante o processo terapêutico, devendo ser usada com base nos preceitos humanístico de acordo com a terapia da Gestalt.

A noção de conflito entre partes do self pode ser entendida em relação a Teoria do Self Dialógico, na qual o self autêntico é composto por partes diferenciadas. Juntas, essas partes do eu constituem uma mente complexa ou “sociedade de mente”. Cada posição contém diferentes perspectivas de pensamentos e sentimentos que contribuem para a forma como o eu autêntico pensa, sente e se comporta no mundo. Essas perspectivas são expressas através do diálogo entre as posições do eu contrabalanceado, que ajudam a moldar uma ideia do indivíduo sobre como deveria ser sua autoimagem. Às vezes, as perspectivas são experimentadas como a voz do crítico interno ou os pensamentos que os outros têm sobre o indivíduo, que muitas vezes são internalizados como verdades absolutas sobre o eu. Essas vozes são então refletidas em como alguém fala consigo mesmo, o que pode provocar emoções intensas (Hermans et al., 1992 apud Baher, 2022).

Mediante essa ferramenta tecnicamente “simples”, que requer treinamento especializado por parte do terapeuta, os clientes consideram entender o outro lado de inúmeras narrativas entrelaçadas em sua biografia. Logo, o seu maior objetivo é favorecer no sujeito um diálogo, interno ou externo. Através dessa conversa entre modos esquemáticos presentes, da criança interior, é possível fortalecer os esquemas (estruturas cognitivas com significados) de um adulto saudável.

Imagem: www.freepik.com/fotos-gratis/quarto-vazio-moderno-com-mobilia

 A técnica da cadeira vazia é uma intervenção terapêutica que tem sido usada em psicoterapia há quase 100 anos, quando o psicólogo psicodramatista Moreno em 1948, fez seus primeiros ensaios. De acordo com o psicólogo gestaltista Perls (1973) essa técnica representa um grupo de intervenções de atuação nas quais o cliente se envolve em um diálogo imaginário em um ambiente contextualizado e pessoas significativas. Essas vivências devem favorecer diálogos com vários graus de estrutura: a) o cliente e um aspecto de si mesmo, ou b) o cliente e uma representação imaginária vívida de um outro importante com quem um relacionamento existe conflito. O principal objetivo consiste em explorar sentimentos subjacentes e seu significado associado com o propósito de alcançar uma resolução de dificuldades pessoais através do processo dessas declarações. Apesar do destaque do trabalho com cadeira vazia e suas variáveis em muitos tipos de tratamento para psicoterapia individual, hoje, além da terapia gestalt, outras abordagens utilizam dessa importante estratégia como a terapia focada na emoção, terapia do esquema e terapia cognitivo-comportamental (Baher, T; 2022).

Aproveito o ensejo, para comunicar que publiquei com minha equipe recentemente, um Ensaio Clínico Randomizado (https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35500249/), como consequência do doutorado, e o mesmo, está produzindo vários frutos do ponto de vista da integração em psicoterapia cognitiva, humanista e comportamental. Gostaria de ressaltar apenas um dos braços dele, que é a contribuição baseada em evidências em consolidar empiricamente a Técnica da Cadeira Vazia desenvolvida pelos colegas humanistas ao longo da história da psicologia.



Nosso trabalho foi citado e ajudou a consolidar uma metanálise desenvolvida por Pascual-Leone, A., & Baher, T., com o título: “trabalho com cadeira em psicoterapia individual: meta-análise dos efeitos da intervenção”, publicado pelo periódico Psychotherapy da APA (2023, 60(3), 370–382. https://doi.org/10.1037/pst0000490), que teve como objetivos: examinar (a) os efeitos únicos do trabalho de cadeira no processo emocional e nos resultados da intervenção em todos os tratamentos no contexto da psicoterapia individual e (b) como esses efeitos se comparam a outras intervenções de tratamento...Descobriu-se que o trabalho de cadeira em sessão única é mais eficaz no aprofundamento da experiência do cliente do que a resposta empática (d = 0,90)...Uma única sessão de cadeira também apresenta mudanças notáveis nos sintomas antes e depois (d = 1,73)...No entanto, quando a cadeira foi usada várias vezes ao longo de um tratamento, acumulou um efeito significativo (d = 0,40) em comparação com tratamentos que não usavam a cadeira. A orientação terapêutica emergiu como potencial moderador.

Sínteses Adicionais: Apesar de sua natureza evocativa, os clientes identificam muitos componentes do trabalho de cadeira como úteis na criação de mudanças terapêuticas. Além disso, o uso de cadeiras físicas em comparação com a imaginária, oferece uma ligeira vantagem nos ganhos terapêuticos, mas não é imperativo para a intervenção. Enquanto isso, o componente imaginário do trabalho da técnica da cadeira foi identificado como um elemento de papel crucial no processamento emocional.

Conclusão: Incorporando o trabalho da técnica da cadeira em sessões únicas e multisessões os tratamentos podem reforçar o processo e os resultados remotos.

Palavras-chave: cadeira; duas cadeiras; cadeira vazia; registro de pensamento baseado no processo; processamento emocional; resultado da psicoterapia; metanálise; revisão sistemática.



Referências e links dos artigos:
3- Instituto Paranaense de Terapias Cognitivas.

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário