Por
Eleonardo Rodrigues
A
Terapia Cognitiva foi criada pelo psiquiatra Aaron Beck, no início dos anos 60,
como um tipo de psicoterapia estruturada, de curto prazo, originalmente
idealizada para auxiliar os pacientes deprimidos a resolverem problemas atuais
e a modificarem pensamentos e comportamentos disfuncionais. Atualmente, há uma diversidade
de modelos cognitivos que surgiram desde seu desenvolvimento inicial,
culminando com a classificação de Terapias Cognitivo-Comportamentais (TCC).
A Terapia Cognitiva propõe que os
pensamentos disfuncionais influenciam negativamente o humor e o comportamento
dos pacientes. Avaliar de forma realista e mudar tais pensamentos automáticos disfuncionais
- que não são decorrentes de deliberação e raciocínio - é um dos passos
iniciais mais importantes desse processo terapêutico. O terapeuta ajuda o cliente
a compreender e modificar os pensamentos disfuncionais que advém das crenças nucleares
normalmente estabelecidas na infância ou adolescência, bem como as emoções (medo)
e comportamentos (evitação) mal adaptadas, influenciando assim, seus correlatos
fisiológicos (taquicardia) do estado atual¹.
O
modelo cognitivo proposto por Beck, sugere que temos três níveis de cognição:
crenças nucleares, crenças intermediárias e pensamentos automáticos. Este
modelo baseia-se na hipótese de que as emoções e os comportamentos são
influenciados por sua percepção dos eventos, de tal modo que são as
interpretações que determinam o que sentem².
Os
pensamentos automáticos compreendem o nível de cognição mais superficial na
terapia cognitiva, surgem automática e subitamente, são rápidos e breves e
ocorrem com frequência. São palavras ou imagens que passam pela mente de um
sujeito em uma situação específica. As crenças intermediárias consistem em
regras, atitudes e suposições e influenciam a visão que um indivíduo tem de uma
determinada situação, influenciando concomitantemente a forma como ele pensa,
sente e se comporta. Essas suposições são observadas em atitudes do tipo
“se...então...”. Já as crenças centrais ou nucleares se constituem como o nível
cognitivo mais fundamental, sendo absolutistas, globais, rígidas e
supergeneralizadas. Tais crenças têm origem nas experiências infantis ou na
adolescência, envolvem as ideias e percepções distorcidas que são consideradas
pelas pessoas como verdades imutáveis sobre si e o mundo e costumam não estar
no nível da consciência. Por isso não são palpáveis e tornam-se difíceis de ser
modificadas, sendo identificadas em afirmações do tipo: “não sou digna de ser
amada”, “sou desamparado”, “sou frágil”, “não tenho valor”³.
Uma
das metas psicoterápicas da terapia cognitiva é produzir dissonância cognitiva,
facilitando a reestruturação não apenas dos três níveis de cognição, mas a correção
do próprio processamento distorcido das informações. À produção de dissonância
terapêutica, procede-se a identificação de erros lógicos e a correção da
modalidade específica de distorção usada pelo cliente4. Assim, como
toda psicoterapia que se preze, uma relação terapêutica segura é fundamental. O
processo final, favorece o cliente ser seu próprio terapeuta, usando os
recursos aprendido no processo em situações futuras.
Fonte:
1. RODRIGUES,
E. P. Comparação
das terapias cognitiva e comportamental individual e em grupo versus
farmacoterapia no tratamento do transtorno obsessivo-compulsivo. Revista
FSA: Periódico Científico da Faculdade Santo Agostinho. Teresina-PI, n.8,
p. 323-334. dez. 2011. ISSN: 1806-6356.
2.
BECK, J. Terapia Cognitiva - Teoria e Prática. Porto Alegre: Artmed,
1997.
3.
RANGÉ, B. Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais - Um Diálogo com a
Psiquiatria. 2. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
4.
DAMASCENO-NETO, J. Terapia Cognitiva: fundamentos e construtos hipotéticos. In:
Rodrigues, E. P. (org.). Psicologia e psicoterapia cognitivo-comportamentais:
filosofia, intervenção e história. Curitiba: CRV, 2018.