Texto enviado à Rede Globo.
A ASBH, entidade representativa dos
hipniatras e hipnólogos regulamentados do Brasil, fundada em 1957, deseja
alertar à produção do
Programa "Encontro com Fátima Bernardes"
quanto ao risco que representa colocar no ar, para todo o Brasil, um
espetáculo baseado
na submissão de pessoas ao estado de
cataplexia ou imobilidade tônica através de técnicas hipnose.
A hipnose é um recurso terapêutico de grande valor, envolvendo técnicas com alto potencial para a solução ou melhora de muitas
A hipnose é um recurso terapêutico de grande valor, envolvendo técnicas com alto potencial para a solução ou melhora de muitas
doenças físicas e psicológicas, porém deve
ser praticada com seriedade e após uma anamnese cuidadosa do paciente.
A "hipnose de palco", que é a hipnose usada para fins de exibição, que não considera, portanto, o estado psicológico do sujeito, ou a
A "hipnose de palco", que é a hipnose usada para fins de exibição, que não considera, portanto, o estado psicológico do sujeito, ou a
sua vulnerabilidade a transtornos mentais,
promove um estado de cataplexia ou imobilidade tônica que pode causar
efeitos deletérios
de dimensões variadas.
O hipnotista deve ser preparado para identificar as possibilidades de risco do indivíduo submetido à hipnose, fundamentado em
O hipnotista deve ser preparado para identificar as possibilidades de risco do indivíduo submetido à hipnose, fundamentado em
conhecimentos advindos da uma formação
clínica. Além disso, o hipnotista também deve ter conhecimento teórico e
prático para decidir
quanto às providencias a serem tomadas no
sentido de auxiliar a pessoa hipnotizada, em face de alguma situação de
risco (17).
No final século XIX, houve um período de muita tensão na Hungria, por causa de um caso de morte durante uma sessão hipnótica.
No final século XIX, houve um período de muita tensão na Hungria, por causa de um caso de morte durante uma sessão hipnótica.
Segundo Lafferton13, esta lembrança serve
para ilustrar a relação complexa entre pesquisa em Hipnologia, hipnose leiga
e casos forenses,
que são largamente discutidos e, muitas
vezes, “sensacionalizados” pela mídia em diversas épocas.
Na literatura científica atual, há vários estudos comprovando que a hipnose indevida representa um risco para a saúde mental. Algumas
Na literatura científica atual, há vários estudos comprovando que a hipnose indevida representa um risco para a saúde mental. Algumas
técnicas de indução hipnótica são
realmente perigosas quando aplicadas em determinados indivíduos (16). Há
vários relatos de ocorrência
de quadros de psicose esquizofreniforme
após sessão de hipnose1, bem como caso de precipitação de convulsão em
pacientes epilepticos (3).
Outro fator de risco é que os pacientes
com vulnerabilidade à psicose histérica são altamente hipnotizáveis (4,18).
Com base no conhecimento dos benefícios e riscos da hipnose, em 22 de julho de 1961, graças aos esforços da diretoria da ASBH, o então
Com base no conhecimento dos benefícios e riscos da hipnose, em 22 de julho de 1961, graças aos esforços da diretoria da ASBH, o então
Presidente da República Jânio Quadros
promulgou o Decreto-Lei no 51.009/61, proibindo, em todo o território
nacional, a hipnose de palco e a
prática da hipnose por leigos, com ou sem
fins lucrativos. Infelizmente, este Decreto foi equivocadamente revogado
através do Decreto no 11
de 19/01/1991, no bojo da análise de um
conjunto de decretos revogados pelo Presidente Collor de Mello (36).
Os diversos riscos da hipnose praticada por leigos foram mencionados pelo Dr David Waxman19 (1917-1994) ao representar a opinião de
Os diversos riscos da hipnose praticada por leigos foram mencionados pelo Dr David Waxman19 (1917-1994) ao representar a opinião de
médicos ingleses, que consideram estar
habilitados para tal prática somente médicos, psicólogos e odontólogos com
treinamento qualificado,
uma vez que eles são obrigados a assumir
as responsabilidades clínicas e legais sobre seus pacientes.
Em 1955, a British Medical Association30 se manifestou sobre a hipnose pela seguinte recomendação: “Danos podem ser provocados pela
Em 1955, a British Medical Association30 se manifestou sobre a hipnose pela seguinte recomendação: “Danos podem ser provocados pela
aplicação da hipnose por pessoas não
qualificadas, particularmente quando usada por pessoas indiferentes ao
bem-estar do paciente,
ou ignorantes das possíveis complicações
mórbidas dos estados hipnóticos. Recomendamos que o uso do hipnotismo no
tratamento de
desordens físicas e psicológicas seja
restrito a profissionais ligados ao Código de Ética que governa a relação
médico-paciente...”.
“Há grande perigo quando usado sem a
devida consideração sobre pessoas constitucionalmente predispostas, ou por
efeito de doença,
a severas reações psicossomáticas ou
comportamento anti-social (criminalmente predispostas)” (2,3,11,12,
14,15,16,19).
Com exposto acima, esperamos ter evidenciado as razões da nossa preocupação com relação à apresentação de espetáculos como o
Com exposto acima, esperamos ter evidenciado as razões da nossa preocupação com relação à apresentação de espetáculos como o
levado ao ar no mês de agosto no programa
supracitado, mesmo que tenha sido uma mera teatralização, pois envolveu um
assunto muito sério.
Terapeuticamente, a hipnose só é aplicada
depois de várias consultas e, em alguns casos, exames complementares, para o
completo
conhecimento das condições do paciente.
Somente em casos de emergência médica ou odontológica, para facilitar
procedimentos ou aliviar
o paciente de sofrimento, é que a hipnose
pode ser aplicada sem os devidos cuidados prévios; mas as técnicas usadas
são diferentes do que
é feito no palco. Neste, a pessoa fica
exposta à observação de uma plateia e, muitas vezes, submetida a situações
que podem lhe causar
medo ou constrangimentos, resultando em
estado de intensa ansiedade. É importante lembrar que durante o estado
hipnótico a pessoa fica
sugestionável, mas não inconsciente.
Passos da Hipnose Clínica no Brasil:
•Já em 1965, o Conselho Federal de Medicina (CFM) incluiu no Código de Ética Médica (cap. VI, artigos 62, 63 e 64) as normas de
•Já em 1965, o Conselho Federal de Medicina (CFM) incluiu no Código de Ética Médica (cap. VI, artigos 62, 63 e 64) as normas de
regulamentação do emprego da hipnose pelo
médico9. Em 1999, o Plenário do CFM aprovou o Parecer nº 42/99 (20/08/1999),
segundo
o qual “a hipnose é reconhecida como
valiosa prática médica, prática subsidiária de diagnóstico ou de tratamento,
devendo ser exercida
por profissionais devidamente qualificados
e sob os rigorosos critérios éticos” (5,6).
•Em 1993, o Conselho Federal de Odontologia aprovou a Resolução 185/93 que dá competência ao cirurgião-dentista para empregar a
•Em 1993, o Conselho Federal de Odontologia aprovou a Resolução 185/93 que dá competência ao cirurgião-dentista para empregar a
analgesia e hipnose, desde que
comprovadamente habilitado, quando constituírem meios eficazes para o
tratamento odontológico.
Entretanto, o uso da hipnose na
Odontologia é reconhecido desde 24/08/1966, já que é mencionado no parágrafo
VI do art. 6º da
Lei no 5.081, que regulamenta o exercício
desta profissão (7).
•Em dezembro de 2000, através da Resolução 013/00, o Conselho Federal de Psicologia também aprovou e regulamentou o uso
•Em dezembro de 2000, através da Resolução 013/00, o Conselho Federal de Psicologia também aprovou e regulamentou o uso
da hipnose como recurso auxiliar de
trabalho do psicólogo (8).
•Mais recentemente, em 2011, Conselho Federal de Fisioterapia também regulamentou o uso de técnicas de hipnose no trabalho
•Mais recentemente, em 2011, Conselho Federal de Fisioterapia também regulamentou o uso de técnicas de hipnose no trabalho
do fisioterapeuta (9).
Referências.
1- Allen DS - Schizophreniform psychosis after stage hypnosis. Br J. Psychiatry 166:680 (1995).
2- Bazil CW. et al. - Provocation of nonepileptic seizures… Epilepsia 35:768 (1994).
3- Bryant, RA; Somerville, E - Hypnotic induction of an epileptic seizure… Int. J. Clin. Exp. Hypn. 43:274 (1995).
4- Cohen, RJ; Sutter, C. – Hysterical seizures: suggestion… Ann. Neurol. 11(4):391-395 (1992).
5- Conselho Federal de Medicina – http://www.portalmedico.org. br/novoportal/index5.asp
6- Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Brasil) – Manual do Médico, informar para não punir. Equipe
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CPEDOC, Rio de Janeiro (2000).
7- Conselho Federal de Odontologia – http://www.cfo.org.br/index. htm
8- Conselho Federal de Psicologia – http://www.crpsp.org.br/
9- Conselho Federal de Fisioterapia - http://www.coffito.org.br/ projetos_de_lei.asp/
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12- Kuyk, J. et al. – Hypnotic recall: a positive criterion in the… Epilepsia 40:485 (1999).
13- Lafferton, E. - Death by hypnosis: an 1894 Hungarian case… Endeavou. 30:65 (2006).
14- Mari, F. et al. - Video-EEG study of psychogenic nonepileptic… Epilepsia 47:64 (2006).
15- Martinez-Taboas, A - The role of hypnosis in the detection of psychogenic… Am. J. Clin. Hypn. 45:11 (2002).
16- McGonidal, A. et al. – Outpatient video EEG recording in the diagnosis of non-epileptic seizures: … J. Neurol. Neurosurg.
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18- Spiegel, D; Fink R. - Hysterical psychosis and hypnotizability. Am. J. Psych. 136:777 (1979).
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FONTE:
Associação Brasileira de Hipnose (ASBH)
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